PROJETO NACIONAL X PROJETO REGIONAL

Em busca da identidade da literatura brasileira
Ambos são projetos nacionais modernistas, usam linguagem simples e buscam uma forma de exprimir em suas entrelinhas todos os problemas existentes no país.
Dois projetos de épocas diferentes, mas com características nacionais, mesmo o regionalista tem em si um impacto nacional, já que engloba dentro do eu corpus problemas e conseqüências gerados em solo brasileiro, embora seja enquadrado dentro de regiões distintas.
Como a ênfase deste trabalho se encontra nos livros “O Quinze” de Rachel de Queiroz, e “Pau Brasil” de Oswald de Andrade, me prenderei à comparação entre eles, explicitando suas semelhanças e diferenças, bem como os pontos chaves dessas duas narrativas para que fossem consideradas obras nacionais.
O modernismo foi dividido de duas formas, a 1ª por Antônio Cândido: 1900 a 1922, a primeira delas; a segunda de 1922 a 1945 e a terceira que se inicia a partir de 1945. E uma forma mais tradicional, que creio ser a mais plausível para esse trabalho: 1ª fase: modernismo heróico, década de 20; 2ª fase: geração de 30; e 3ª fase: geração de 45. Sendo que o objeto de estudo seja a 1ª e a 2ª fase: a fase heróica e a fase do Regionalismo de 30.
Os escritores pertencentes à 1ª fase do modernismo visavam a tradição colonial e

fundiária do país, a industrialização tardia, além do alto hibridismo cultural, além de criticarem a “provinciana” cidade de São Paulo.
“renovação estética permanente, através do aproveitamento dos princípios de
vanguarda, com ‘deglutição’ pessoal e autônoma e adaptação ao panorama
brasileiro; a revisão da ‘história pátria’ relida agora do ângulo do colonizado; a
revitalização do falar brasileiro, o resgate do coloquial e regional (...); o
questionamento dos temas do nacionalismo e da identidade cultural brasileira,
considerando-se a nossa formação fragmentada, fruto do nosso hibridismo
sócio-cultural”.( HELENA, Lúcia. Modernismo brasileiro e vanguarda. 3.ed. São Paulo: Ática, 2000.p. 50-1. In: As fases iniciais do modernismo Brasileiro. MONTEIRO, Fernando e PONDE, Ruy).


Seriam essas as características básicas dos modernistas da fase heróica.
Já na geração de 30, houve uma preocupação maior com problemas sociais, descritos em contos e romances em prosa. Com caráter neo-naturalista, “abordou aspectos peculiares do país.”
Se desenvolveu mais fortemente no Nordeste, descreviam as péssimas condições em que o homem vivia e as conseqüências dos fenômenos naturais para a vida do mesmo.
“O chamado ‘romance de 30’ institui como ‘temas regionais’: a decadência da sociedade açucareira; o beatismo contraposto ao cangaço; o coronelismo com seu complemento: o jagunço e a seca com a epopéia da retirada”5. .
As semelhanças entre as fases não são muitas, uma vez que traziam consigo forte crítica social e novas abordagens e visões do mundo. João Luiz Lafetá, em “A crítica e o Modernismo”(p. 19)6, ao se tratar dessas duas fases distintas do modernismo:
“Entretanto, não podemos dizer que haja uma mudança radical no corpo de doutrinas do Modernismo [...]. As duas fases não sofrem solução de continuidade; apenas, como dissemos atrás, se o projeto estético, a revolução na literatura’, é a predominante da fase heróica, a ‘literatura na revolução’ (para utilizar o eficiente jogo de palavras de Cortázar), o projeto ideológico, é empurrado, por certas condições políticas especiais, para o primeiro plano nos anos 30.”

Sendo assim, pode-se considerar que, tanto o romance de 30 (O Quinze) quanto o romance da fase heróica (Poesia Pau Brasil), as suas características básicas para que fossem considerados romances nacionalistas/regionalistas, também são suas semelhanças: Linguagem simples, abordagem de temas nacionais ou regionais, são romances que buscaram uma renovação no cenário literário do país. Como diferenças, creio que se enquadram os diferentes tipos de métrica – o 1º é uma narrativa em 3ª pessoa, e o 2º é um livro de poemas. Os temas abordados, já que um (O Quinze), trata-se de um romance regionalista, mais propriamente da Região do Nordeste, já que aborda a história de uma família durante a grande seca de 1915, e o outro (Pau Brasil) trata-se


5 ALBUQUERQUE JR., Durval Muniz de. A invenção do nordeste e outras artes. 3ª ed. Recife: Fundação Joaquim Nabuco; Massangana; São Paulo: Cortez, 2006.In: As fases iniciais do modernismo Brasileiro. MONTEIRO, Fernando e PONDE, Ruy.
6 In:Bueno Luiz. Uma história do romance de 30. EDUSP. Ed. Unicamp. São Pulo. P.44).
de um romance de cunho nacional, abordando histórias desde o descobrimento do Brasil aos dias de hoje.

“Lá se tinha ficado o Josias, na sua cova à beira da estrada, com uma cruz de dois paus amarrados, feita pelo pai. Ficou em paz. Não tinha mais que chorar de fome, estrada afora. Não tinha mais alguns anos de miséria à frente da vida, para cair depois no mesmo buraco, à sombra da mesma cruz.” (Trecho do livro “O Quinze” de Rachel de Queiroz. Ed. Olimpio. Edição nº24, 1978).


Pero Vaz de Caminha

as meninas da gare

Eram tres ou quatro moças bem moças e bem gentis
Com cabellos mui pretos pelas espadoas
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas
Que nós as muito bem olharmos
Não tinhamos nenhuma vergonha
(Trecho do livro “Pau Brasil”, de Oswald de Andrade. Editora Globo. Edição nº 2, 2003).

Nota-se que ambos usam uma linguagem simples, Rachel diferente de Oswald, mantém uma linguagem simples e “presente”, já que o autor de “Pau Brasil” usa uma linguagem voltada para os primórdios (percebe-se pela falta de acentuação e o uso de dois “L’s” em cabellos).
O modernismo foi um período de reconstrução, de busca de uma identidade nacional. Foi uma tentativa de reformular a literatura nacional. Apresentar ao mundo o Brasil como ele era, de forma direta e seca, apresentando os problemas e suas conseqüências para o povo brasileiro.
Como disse Oswald: “incorporados ao nosso meio, a nossa vida, é dever deles tirar dos recursos imensos do país, dos tesouros de cor, de luz, de bastidores, que os circundam, a arte nossa eu se afirma, ao lado do nosso intenso trabalho material [...], uma manifestação superior de nacionalidade.”7; era necessário naquele momento a criação de obras que se revestissem de verde e amarelo e desbravassem todo aquele cinismo literário, aquela métrica perfeita, aquela busca pelo imaginário sobre o real sem se pautar em temas reais ou revolucionários. Esses dois movimentos surgem como saída para essa busca do que é ser nacional, do que é ser pátria.

7 Lanterna Mágica. Em prol de uma pintura nacional. O Pirralho, São Paulo, 2 de jan. 1915.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

 CASTELLO, José Aderaldo. A Literatura Brasileira: Origens e Unidades. São Paulo; EDUSP, 1999, v. 2.
 QUEIROZ, Rachel. O Quinze. Ed. Olimpio. Edição nº24, 1978.

 ANDRADE, Oswald. Pau Brasil. Ed. Globo. Edição nº2, 2003.
 MONTEIRO, Fernando e PONDE, Ruy. As fases iniciais do modernismo Brasileiro.
 BUENO, Luis. Uma História do Romance de 30. EDUSP.
 BATISTA, Marta R. & org. op. Cit. P. 245
 PRADO, Paulo. O momento. Revista do Brasil, São Paulo, 25(100): 289-90, abr. 1924.
 Oswald fala a posteridade. Entrevista ao Quincas Borba, São Paulo, 2(5): 1-2, jan. 1955.
 Ensaio sobre Pau Brasil e Memórias Sentimentais de João Miramar.
 PRADO, Paulo. Critica ao livro de Pau Brasil, de Oswald de Andrade. Obra completa de Oswald de Andrade – Poesia Pau Brasil. Ed. Globo, p. 89, 2000.
 ANDRADE, Oswald de. Manifesto Pau Brasil. Correio da manhã, 18 de março de 1924.
 JÚNIOR, Durval Muniz de Albuquerque A invenção do Nordeste e outras arte;– Ed. Cortez – 4ª Edição.
 CARPEGGIANI, Shneider. 50 anos da morte de José Lins do Rego traz especialistas para refletirem sobre o período histórico da nossa literatura.
o www.wikipedia.com
o www.pobrevirtual.com.br
o www.nordesteweb.com

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