Rotina...

Faz 1 ano que eu trabalho em Ouro Preto. Moro em Mariana, então faço o mesmo trajeto todos os dias para chegar ao ponto de ônbus onde eu pegarei a condução para chegar ao meu destino.
Sei que como faz muito tempo que faço este caminho, o mais normal é que comece a perceber certas coisas que se repetem por todas as manhãs. Se pensarmos que geralmente vemos as mesmas pessoas fazendo as mesmas coisas... Mas o que me motivou a escrever este texto hoje foi uma senhora que vejo indo à padaria todos os dias initerruptamente, e hoje a ultrapassei e pensei: "Nos vemos todos os dias e uma nunca virou pra outra e disse - 'Bom Dia!' Isso por que?
Geralmente a vejo na rua do jardim, ela mora em uma rua paralela ao jardim, e passa por ali porque é mais fácil chegar à padaria por este caminho. Pois bem. Eu a vejo perto do jardim. Ela é uma senhora de mais ou menos 70 anos, pra mais ou pra menos. Tem a bunda enorme, mas não é gorda, tem uma cintura normal, e não muita barriga, os cabelos estão quase totalmente brancos, alguns ainda se encontram em tons de cinza. Ela tem o andar meio torto, deve ser devido a vasinhos arrebentados nas pernas, ou por dores causadas pela idade. Mas mesmo assim ela sempre se levanta cedo para ir à padaria comprar pão. Gostaria de saber pra quem, porque na minha opinião, tem que ser animado para ir à padaria no horário que ela vai. Na maioria das vezes a padaria emq ue ela compra pão está fechada quando ela chega até a porta - contando que a padaria abre as 6:00h -, ela espera a porta se abrir. Detalhe, 10m a frente tem outra padaria do memso dono, e provavelmente os produtos e as suas qualidades são os mesmos, mas ela espera. É a primeira a entrar, se tivesse algum prêmio para o primeiro cliente que entrar na padaria, por exemplo, no dia do seu niver, ela ganharia todos os anos!!! 
Com o passar desse ano fui reparando diversas pessoas, há também um senhor, ele deve ter seus 40 e poucos anos, ele passa em frente a minha casa, sempre com uma mochila. Ele entra sempre em uma galeria, não sei o que ele faz lá, ele me parece um pedreiro, um cara que conserta coisas, mas não acredito que seja isso que ele faça, porque fazer todos os dias? Aí é demais,né??
Tem as figuras do ponto de ônbus, uma que me chama a atenção é uma professora, uma das muitas que vejo todos os dias, ela é branca demais, sempre vai com roupas coloridas, quando digo coloridas, digo descombinantes, calça marro, com blusa verde e blusa de frio vermelha, e dependendo do tempo, uma toquinha na cabeça. Ela usa óculos, um desses grandes e antigos. Ela tem cara de cansaço... E eu vou pro mesmo caminho. Ela sempre está lá, para um pouco pra baixo do ponto e fica, com sua pasta preta nas mãos. Têm também os alunos do IFMG/OP, que estão lá quase todos os dias, e que perdem o ônibus, bigam pra entrar e desistem de ir em um ou em outro devido a falta de lugares.
Não posso deixar de falar das pessoas que reparei e que não vejo mais. Havia uma mulher negra, dos olhos arregalados, ela sempre pegava o ônibus quando ele voltava de um posto de gasolina - que para mim é uma idiotice essa volta que o ônibus dá, mas fazer o que! - Mas aí ela estava grávida, e começou apegar o ônibus na rodoviária. Ela sempre entrava com o terço nas mãos, rezando -  coisa que eu não faço nem de vez e quando. Ela não está mais indo, creio que esteja de licença maternidade.
Há também pessoas que não vejo mais, mas que se tornaram amigas. Lembro-me bem da primeira vez que vi, chovia um pouco. O vi na rua da minha casa, eu seguia em uma direção e ele vinha em direção oposta. Nesse dia como estava chovendo pouco, eu não abri sombrinha, mas ele estava de guarda-chuva... A gente se cruzou, não dissemos nenhuma palavra, mas o seu perfume se empreguinou em meu nariz... Meu DEUS... Que perfume! O vi até ele ser demitido, coisa que só vim a saber no inicio do meês quando ele foi em uma festa em minha casa. Gostava de cruzar com ele na rua, adoro perfumes... Sentir cheiros... Principalmente de homens!!! Um bom perfume é marcante!
Há um outro também. Vi no ponto de onibus, pela cara limpa, pensei que fosse mais um dos alunos do IFET, mas ele não estava no ponto todos os dias, apenas nas segundas e terças... Estava sempre com cara de sono, uma calça jeans batida, e uma blusa tipo xadrez, dessas de botão, branca e azul. Carregava consigo uma mochila, um dos motivos que acreditava fielmente que ele era aluno do IFET, o outro é que ele pegava o mesmo ônibus que eles! Julguei-o inicialmente como "criança", achava que ele era novo demais! Depois de mais ou menos um mês, eu o vi no ICHS/UFOP, onde curso Letras. Ele estava com a mesma calça batida e uma blusa da Seleção Brasileira. Nesse dia eu vi que ele tinha algumas tatuagens no braço. Perguntei a uma amiga se ela conhecia e elea disse que ele era da sala dela, ou seja, ele não era aluno do IFET como eu julgava, e sim aluno do 1º período do curso de Letras! E eu nunca o tinha visto, e o mais engraçado é que ele já havia ido a minha casa! É, eu realmente não percebo as pessoas... Com o tempo começamos a conversar, e descobri que ele dava aula de ingles em um desses cursinhos, e esse era o motivo dele estar no ponto em alguns dias. Hoje eu não o vejo mais no ponto de ônibus, ou na Universidade, ou em minha casa, mas ainda conversamos, nos encontramos às vezes em festas... Essas não podem faltar...
Havia também uma moça, ela vendia jornal em frente ao ponto de ônibus, guerreira, tá! Ela vendia jornal no mesmo lugar todos os dias, não importava o tempo, podia estar chovendo canivete que ela estava lá, segurando uma sombrinha, e tampando os jornais no chão com outra sombrinha. Não sei quanto ela ganhava, mas tinha que ser muito... Ninguém merece trabalhar como ela trabalhava! Ela era negra, tinha essas trancinhas nos cabelos, eles eram médios e com tons avermelhados. Tinha o corpo bonito, como o da maioria das negras brasileiras... Não sei o que aconteceu, mas esse anos, de um dia pra outro ela parou de ir. Eu a vi outro dia em uma loja próxima a minhas casa, mas não tive coragem de perguntar o porquê dela ter parado de vender os jornais...
Tem aquelas figuras que aparecem às vezes, como um bombeiro... Diga-se de passagem... LINDO!!! Aparece no ponto raras vezes... Mas um dia ainda puxarei papo com ele...hehehehehe
Tem os mendigos ou bêbados que ficam dormindo no ponto. Eu me pergunto, como uma pessoa pode ficar desse jeito? Sei que existem vícios incontroláveis, e que as pessoas nem percebem o que estão fazendo... Sempre digo: "Tenho medo de um dia ficar assim, sentar e ficar onde eu parei e acabar dormindo!" Imagino que essas pessoas têm uma casa, uma família... Alguma coisa sólida, sólida no sentido de concreta.... Mas vai saber... Desses eu quero distância!!
Têm os senhores da porta da greja, todos os dias tem missa na Matriz da cidade, e todos os dias eu vejo senhores e senhoras sentados do lado de fora, conversando e esperando o sino tocar para que eles possam entrar e assistir à celebração...
E os barulhos... Tem um refletor ao lado da igreja, todos os dias ele faz barulho como se fosse explodir! Tem um cachorro que sempre uiva quando o sino da igreja toca! E o cinema do SESI que sempre está com as portas abertas, isso é realmente engraçado!
È bom você andar e perceber as coisas a sua volta... Algumas pessoas sempre passam correndo, outras passam cantando, outras escutando música, outras andam como se estivessem contando os passos, algumas passam acompanhadas alguns dias e outros sozinhas... Algumas te olham e desejam bom dia, outras nem te olham, algumas te marcam pelo perfume, outras frequentam a sua casa e você nem percebe, algumas constituem família, outras se veem na obrigação de estarem ali todos os dias, mesmo sem vontade e demonstram isso... Outras brigam por um lugar no ônibus, outras se esquecem de onde estão... Outras vendem jornal, outras caminham mais rápido do que você, o que parece que a pressa dela é maior do que a sua... Algumas encontram com o "amor" ao sairem do ônibus... São pessoas que sempre fazem a mesma coisa, independente do sol, da chuva... Do sono, do ânimo... Do humor... Pessoas que sentem, e que sentem a obrigação de fazer o que elas fazem todos os dias... São pessoas que buscam por alguma coisa, ou que tem muito a oferecer... E no fim todas são iguais em muitas coisas... E todas devem reparar as outras que aparecem no caminho dia pós dia, e que quando uma simplesmente deixar de aparecer, fará falta, não aquela falta de amigo, mas a falta de ver sempre... De olhar e imaginar o que se passa na cabeça dela... E de imaginar o que aconteceu com ela...
Isso faz partye da vida quando se tem uma rorina... É chato... Mas dá boas histórias....

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