Janelas da alma

Já passa da meia noite. E eu estou deitada sobre o telhado da minha casa. A chuva segue caindo mansa por sobre o meu corpo. Ela inunda o meu ser. O mais engraçado é que a chuva cai, mas ainda há estrelas no céu, e a lua ainda sorri pra mim, como quem quer dizer: somos só eu e você!.
Meus pensamentos estão tão longe da minha cabeça. Sinto como se meu corpo aqui permanecesse, intacto, úmido e olhando pra lua, mas a minha alma não está aqui. Sinto meu corpo gélido, bem mais frio que esta bela madrugada em que a lua chora, em que as estrelas derramam seu brilho sobre a Terra. Eu me observo de longe, como se para saber quando o meu corpo tentará em vão movimentar-se.
Meus olhos estão travados na lua. Minhas pupilas estão dilatadas, em êxtase com tamanha beleza. Foi a primeira vez que me encontrei assim. Pude, pela primeira vez me afastar de verdade de mim. Eu fugi, eu corri o mais rápido que eu pude. Eu olhei por cada janela, entrei em todos os sonhos que eu pensei poder encontrá-lo. Não conseguia.
As horas iam passando. E eu estava longe. Vagando. Meu corpo ainda estava lá. Eu o sentia deitado no telhado, úmido e gélido. Eu me afastava de mim para poder encontrar você. Eu precisa encontrar você. Sentia a chuva atravessar-me. Ela não podia me tocar. O brilho da lua transpassava pelo meu "corpo". E eu só queria encontrá-lo.
Procurei. Vaguei por todos os caminhos que eu conhecia. Caminhei por todos os caminhos em que você poderia estar. Mas não encontrei. Eu sempre te imaginei de um jeito. Igual a mim, ou o mais próximo de mim possível. Eu me enganei. Não poderia existir alguém que fosse igual a mim. Pensei em desistir. Pensei em voltar para o meu corpo e acordá-lo, fazê-lo ter aquela sensação de sonho não acabado? Aquele sonho que você tenta inutilmente voltar a ter? Ou aquele que você sabe que foi bom, mas que não se lembra do que aconteceu? Pensei, mas não o fiz. Não podia desistir depois de ter tido chance tão brilhantemente cedida pelos céus.
Eu queria você igual a mim. Queria que você percorresse os caminhos que eu queria que percorresse. Queria que fosse igual a mim. Que gostasse do mesmo que eu. Que gostasse de deitar na chuva. Esse é ponto, eu não gosto de deitar na chuva! Eu não posso sentir a chuva. Então me dei conta que procurava a alma errada. Eu procurava um corpo com uma alma, mas pensava só no corpo. Queria as coisas que o corpo queria. Só que não. O amor vem da alma. Então precisaria procurar uma alma igual a mim, e não um corpo igual ao meu corpo, e com uma alma diferente.
Então percorri outros caminhos. Fui atrás de coisas que meu corpo nem conhecia. Mas eu sentia. Sempre esteve aqui, mas eu me privei de tudo por causa do corpo. Agora eu acordei. Caminhei. Vigiei o máximo que eu pude. Aí, bem ao longe, eu avistei você. Debaixo de uma árvore. Protegendo-se de uma chuva que não podia tocar-lhe. E eu soube, naquele momento, que era você. Eu me aproximei. Disse um oi. Você me olhou. Por eternos 10 segundos os seus olhos compenetraram nos meus. E eu parti. O primeiro passo foi dado.
Voltei para o meu gélido corpo. E ele despertou. Ele teve aquela sensação de sonho não acabado. Ele entrou. Tomou um banho. E se deitou. Mas não sonhou. A lembrança daqueles olhos compenetrados nos nossos olhos, ficará. E um dia, não muito tarde, ele reencontrará esses olhos. O corpo não verá a alma. Reconhecerá os olhos. E novamente eles se compenetrarão. E se unirão. Olhos que nunca se encontrariam, mas que em um sonho se encontraram.
"Os olhos são as janelas da alma". Não é isso o que dizem? 

Comentários

Unknown disse…
Apaixonada pelos textos.. muito lindo

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