Ele

Pensei em escrever algo como o "Ela", mas para o "Ele"... Não sei se vai dar certo. Mas vou tentar.
Ele nasceu de um parto cesariano. Ele era o 2º filho de um casal. Ele começou a falar aos 11 meses de vida. Começou a andar aos 18 meses. Ele ganhou uma bola de presente de aniversário. Sua primeira festinha foi de time de futebol, o Cruzeiro. Bexigas azuis e brancas, estrelinhas sobre o bolo. Muitos carrinhos embrulhados em papéis coloridos. Mas lá estava a bola. O único presente em formato circular.
Ele aprendeu a chutar com 2 anos. Ele ia ao parque com o seu pai todos os domingos. Sua mãe contava histórias todas as noites, cada dia uma diferente, algumas inventadas. Ele não gostava de dormir de luz apagada. Tinha uma luminária com estrelas e lua que refletia no teto do quarto.
Ele acordava sempre às 6 horas da manhã. Enquanto a sua mãe preparava a mamadeira na cozinha, o seu pai brincava com ele de aviãozinho. A irmã dele morria de ciúmes dele. Certa vez, enquanto sua mãe falava ao telefone, ela deu a ele um pedaço de papel higiênico, que logo foi colocado dentro da boca. Ele engasgou e foi levado ao hospital. Nada de grave.
Ele completou 7 anos, sem muitas coisas relevantes. Ele queria ser jogador de futebol. Ele gostava de peladas na rua com seus amigos. Ele já sabia ler e escrever. Ele já tinha melhores amigos. Ele já se sentia apaixonado por uma menina da sua classe. Ele aprendeu a chutar todas as bolas no ângulo esquerdo do gol.
Ele começou a se sentir sozinho quando a sua irmã saiu de casa. Ele já tinha 13 anos. Ele acabara de dar o seu primeiro beijo na boca. Ele não queria namorar. Assim como os seus amigos, acreditava que pegar muitas meninas da escola era a melhor coisa a se fazer.
Ele completou 16 anos. Ele deu o primeiro trago em um cigarro. Ele transou com a empregada antes de dar esse trago. Ele tossiu, mas depois se acostumou. Ele ainda queria ser jogador de futebol. Treinava todos os dias no clube do seu bairro. Ele gostava de andar de bicicleta. Seu pai ainda jogava bola com ele aos domingos no parque.
Ele experimentou maconha aos 17 anos. Ele parou de usar aos 18, quando a sua mãe descobriu e o ameaçou ser internado em clínica de reabilitação. Ele se apaixonou. Ele começou a namorar e levou a garota à casa dos seus pais. Ele queria se casar.
Ele se formou na escola. Ele não queria mais estudar. Ele aprendeu a tocar violão. Ele fazia shows em bares à noturnos. Ele ainda namorava com a mesma menina. Ele disse eu te amo. Ele comprou uma aliança. Ele comprou vinho e macarrão em um restaurante. Ele a levou ao parque. Ele foi correspondido.
Ele fez um teste numa escolinha de futebol. Ele não passou. Ele pensou em desistir de tudo. Mas a sua namorada não deixou. Ele a pediu em casamento. Ela aceitou. Ele fez despedida de solteiro. Ele convidou todos os seus amigos. Ele estava feliz. Ele comprou rosas vermelhas para presenteá-la antes do casamento.
Aos 23 anos ele se preparava para o casamento. Eles se amaram loucamente dois dias antes. Eles não se viram no dia anterior ao casamento. Ele sorria enquanto vestia o seu terno junto com seus amigos e padrinhos. Ele foi pra igreja. Ela se atrasou. Ele ficou preocupado. Aí a notícia chegou. Acontecera um acidente. Ela não escapou.
Ele enlouqueceu. A bola q o acompanhou murchou. Dois dias depois se matou. Ele se despediu em uma carta. Disse adeus, e mais, pediu para junto dela ser colocado, para que a luz que a guiou, o guiasse também. Ele acreditava que se o amor fosse grande e forte o suficiente, sobreviveria e transpassaria os mundos. E ele só queria ser um jogador de futebol.

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