Ciclos

Quando a gente estuda psicologia na faculdade, a gente aprende que a vida do ser humano é disposta em fases, e eu não falo da famosa ordem: "Nascer, crescer, Reproduzir e morrer". Quando eu falo em fases, digo a infância, a adolescência, a juventude e a velhice. Eu já passei por duas dessas fases, vivo a 3ª, e estou caminhando para a 4ª e última fase.
Quando eu era criança acreditava que tudo era bom e belo, mentira... Sei que muitas pessoas, enquanto crianças, acredita que o mundo é cor de rosa, que as coisas são fáceis. Que basta sair pro mundo que tudo vai se acertar... Só que eu nunca pensei assim. Não estou dizendo que sabia de todos os problemas do mundo, mas sabia que as coisas não eram fáceis. Sempre tive muita facilidade de captar as coisas no ar. De perceber o timbre da voz, uma lágrima que escorre pelo rosto, uma palavra dita em momento (in)oportuno... Ainda criança vi minha mãe chorar, e embora ela não me dissesse o motivo, eu sabia. Apenas abracei-a e deixei que ela chorasse. Eu senti a morte...Não como em um filme de terror, em que ela vem de mansinho e rouba a vida, ou tenta. Eu perdi muitas pessoas que eu amava, e embora eu amasse, eu não chorei. Não foi por não compreender o que estava acontecendo, mas sim por aceitar que pessoa tinha que ir. Eu amadureci muito rápido.
Quando adolescente eu achava que sabia de tudo, na verdade, sabia da maioria das coisas que eu precisava saber naquele momento, e um pouco mais. Sempre fui muito curiosa, e nunca deixei que nada passasse despercebido pelos meus olhos. Senti a traição passar por perto de mim. Eu sofri por amigos perdidos e por amores roubados. Amor de criança? Não, eu não diria isso. Sabia o que eu sentia e sabia o que eu queria. Aos meus 12 anos completos eu me apaixonei... E como em um filme de comédia romântica, eu abri mão do "amor da minha vida" para a deixá-lo com minha melhor amiga, e eis que ela o trai... E eu deixo a amizade dela para poder cuidar do meu amor...Coisas que eu tinha sangue frio pra fazer...Eu o ajudei com a próxima namorada, até que ao término do namoro, eu tive a minha oportunidade, e percebi que não era o que eu queria... hahaha... Fui viver minha vida... A amizade continuou, mas mais do que isso, não dava.
Acredito  que a transição entre a adolescência e a juventude seja a parte a mais difícil da vida... haha... É aquele momento que você não se conhece como criança, mas também não se considera como um adulto. É quando os hormônios estão à flor da pele, é quando os instintos  florescem e você fica sem saber o que fazer... É quando o amor deixa de ser apenas um sentimento e se transforma em uma relação feroz entre corpos. Quando os beijos não saciam mais os desejos... Dizer que uma criança de 15 anos sabe o que está fazendo seria negar que ela foi totalmente influenciada pela mídia, então não, ela não sabe o que está fazendo, é apenas uma criança que sacia os seus desejos por influência. É quando a segurança para deixar que outro corpo invada o seu corpo.
Nesse momento eu vivi tudo o que eu podia viver, tive tudo o que eu podia ter, e até mais. Eu bebi, eu extravasei, eu enlouqueci... Eu vivi!!! O que mais poderia dizer que eu fiz? Eu vivi... Eu saí de casa, passei no vestibular... Eu fiz sexo... Eu viajei... Eu aproveitei tudo o que tinha pra aproveitar... Trabalhei... Fui pra festas e fui trabalhar sem dormir... Eu curti muito!!! E antes de voltar... Eu envelheci...
Quando eu percebi que envelheci, nada mais fazia sentido... As festas, as bebedeiras, as curtições... Eu mudei meus caminhos... Eu busquei a serenidade... A santidade... Eu tentei seguir um caminho diferente, eu queria ser diferente!!! Eu relaxei... Eu viajei... Fiz novos amigos, amigos de verdade e pra sempre... Eu dobrei os meus joelhos e orei... Agradeci a Deus, clamei o Teu nome... Eu fui outra pessoa... Mas aí eu enxerguei a falha humana e desviei... Comecei a traçar os meus próprios caminhos... Eu me perdi de tudo aquilo que eu acreditava... E eu já tinha envelhecido... Não...Não deixei de ser jovem... Eu deixei de ser inconsequente por um tempo... Mas aí eu caí... Eu voltei à estaca 0,3... Não foi a estaca 0 porque eu sabia o que fazer, só não fazia... Eu enlouqueci, eu chorei... Não perdi minha percepção das coisas... Mas queria... Eu fechei meus olhos para o óbvio e caminhei...
Hoje eu ainda caminho... Não sei pra onde... Sei que estou sozinha, de pessoa de carne e osso... Sei que Deus está comigo, e não me abandonou... Não sei o que eu quero exatamente... Não sei o que me espera... Simplesmente quero a serenidade de uma vida bem vivida... Uma cadeira de balanço na varanda de uma casa com um belo quintal verde, onde ao longe eu veja uma estrada, e ao meu lado, uma cadeira de balanço, que ela não esteja vazia... Que ela balance ao mesmo ritmo da minha.... E que quando o balançar da cadeira ao meu lado acontecer apenas por causa do vento... Que o vento me leve... Como a doce morte, não como em um filme de terror, me leve enquanto eu durmo... E que o vento balance as duas cadeiras ao mesmo ritmo... E que a nossa vida aqui, seja eterna além das estrelas...
Essa é a velhice que eu quero pra mim... Que não esteja só, que sejamos duas cadeiras de balanço, que balançam juntas pra sempre...

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