Devaneios de uma segunda feira do mês de setembro

 Oi. Tudo bem?

Eu diria que não. Mas obrigada por perguntar.

Você quer falar sobre isso?

Prefiro não, obrigada pela preocupação. Estou indo embora, tenho muitas coisas pra fazer na minha casa.

Okay! Até mais e fica bem.

Obrigada, vc também!

Eu estive pensando, depois de um dia todo triste, sentada na frente desse computador, porque nada dá certo na minha vida?

Será que são os erros passados que ainda me perseguem? Ou será que simplesmente eu não seja merecedora de algo bom, mas algo bom de verdade! Não de um cavalo de troia, que chega embrulhado de presente e que quando eu o abro não tem nada lá dentro.

Eu não. Mas hoje não foi fácil. Hoje a vontade de chorar tomou conta de mim. Do nada. Sem motivo, eu acho. Ou tem motivo e eu não quero aceitar.

Queria que a minha vida fosse diferente. Só que não sei como fazê-la mudar. Eu ouço: "seja a mudança que você quer pro mundo!". Como eu serei a mudança pro mundo sendo que nem sei no que de fato eu preciso mudar.

Oi! Bom dia!

Olá, bom dia!

Passou bem a noite?

Claro. Por que pergunta?

Ontem você disse que não estava bem.

Ahh.. Era só uma dor de cabeça. Mas estou melhor agora.

Que bom! Hoje tem uma festa. Vamos?

Claro!

Te vejo mais tarde!

Me sinto gorda. Não tenho roupa pra vestir. Porque dizer que vou sair sendo que não tenho vontade. Mas eu vou. Preciso vestir um sorriso na cara e sair. Não posso ficar só dentro de casa. Vai ser pior. Como minha mãe diz: "Cabeça vazia, oficina do diabo". Longe de mim servir de oficina pra ele... Mas porque aceitei sair? Vou ligar e dizer que estou de TPM. Ela vai entender. Toda mulher passa por isso.

Oi... Boa noite!

E aí, animada?

Até estava, mas minha cabeça voltou a doer, acho que é TPM.

Não se preocupe, tenho um remédio que tiro e queda, mas se não melhorar, a gente vem embora.

Tudo bem então.

Não consigo dizer não. Não consigo me impor. Porque sempre deixo outras pessoas decidirem sobre a minha vida? Se eu disse que não queria ir, eu não deveria ir. Não tenho roupa pra ir nessa festa. Vou ir de preto, emagrece. Será que passo maquiagem? Melhor não, assim não chamo a atenção de ninguém. Este é sempre meu pensamento. Se ninguém me nota, que continue assim.

Tudo está ruim, e ainda começou a chover. É uma chuva pouca, mas é chuva. Eu não estou bem. A vontade de chorar ainda é grande. E eu fico repassando os motivos. Será que é aquele garoto? Minha paixão platônica, que eu nunca poderei ter? Será que são meus erros passados que estão me perseguindo e tiram meu chão? Ou sou simplesmente eu com minha consciência pesada e certeza de que eu sou só um zero a esquerda que não merece ser feliz?

Nossa! Você está linda!

Obrigada! Você também está!

Vamos?

Vamos.

Olha, são eles! Vamos lá?

Pode ir você, daqui a pouco eu vou. Vou pegar algo pra beber.

O que eu estou fazendo aqui? Esta é uma pergunta que sempre faço em todas as festas que eu vou. Mas eu preciso ir. Eu preciso mostrar que eu estou bem, e assim ninguém vai ficar me perguntando como eu estou. Sorriso okay! Sem lágrimas nos olhos? Checado! Vamos então... Encontrar com essas pessoas que acreditam que me conhecem.

Oi pessoal.

E aí, tudo bem?

Claro! E com vocês?

Tá tudo bem.

Vai beber alguma coisa?

Só refrigerante. Tomei um remédio agora.

Você quem sabe, vai perder toda a diversão.

Como as pessoas conseguem ver diversão numa festa dessas? O que eu estou fazendo aqui? É a única coisa que passa na minha cabeça, e que faz com que meus olhos fiquem marejados... São sorrisos forçados e a rinite que sempre me salva de perguntas como: Por que você está chorando? Eu quero ir embora, mas ela não quer ir. Ela é minha amiga, mas me deixou sozinha. Como será que ele está? Eu não sei. Mal conversamos hoje. Acho que ele tem vergonha de mim, e o como estou pressionando, ele está se afastando.

Melhorou a dor de cabeça?

Melhorou sim, mas agora estou com cólicas. Vou ir embora.

Vou com você!

Claro que não. Fique com o pessoal. E aquele ali não para de te olhar. Peço um uber e está tranquilo. Amanhã nos falamos.

Certeza?

Sim!

Me avise quando chegar.

Pode deixar.

Ela nunca chegou. Não sei o que estava acontecendo, mas ela parecia estar bem. Ela me dizia que estava também, E eu acreditei. Ela era uma pessoa tão feliz, gostava de trabalhar e de estar com os amigos. Por que ela fez isso? Por que ela se foi? Hoje essas perguntas estão na minha cabeça. A mãe dela disse que haviam muitas cartas nas coisas dela. Muita coisa triste. Ela carregava uma culpa tão grande e não era capaz de se perdoar. Ela parecia feliz. Ela sorria. Ela trabalhava. Ela saía. Mas era tudo de mentira.

Eu não vi, eu não percebi. E dizem que os sinais são tão claros. Que a depressão deixa a pessoa pra baixo. Sem vontade de fazer as coisas. Dizem que as pessoas se isolam. Ela não fez isso. Perguntar se estava tudo bem e ficar ao lado, não foi os suficiente. Ela se distanciou de mim, mesmo estando ao meu lado. A única coisa verdadeira de tudo o que falam sobre a depressão, é que ela é uma doença silenciosa.

Não ache que você sabe tudo. Que você vai conseguir ajudar o mundo. Perguntar se tudo está bem, nem sempre é o suficiente.

Eu escolhi partir. O mundo é cruel demais comigo. Não encontro o amor. E quem eu acho que me ama, só quis me usar. Mas a culpa não é dele. A culpa é minha por nunca acreditar no amor. por achar que ele não passava de um sentimento interesseiro. Eu nunca me abri. E agora parto sem saber como é. Me perdoem pelos erros que ainda iram descobrir que eu cometi.

E assim ela se foi.

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