A morte, as lágrimas e minhas lembranças

Tenho pensando muito sobre estes três assuntos: A morte, as lágrimas e as lembranças... E fico pensando, será que é normal você ter lembranças de mortes que não são "suas"? Quando digo isso refiro-me a morte daqueles que não são meus, meus parentes, meus amigos... Lógico que penso na morte deles...Mas nesse caso, penso mais na ausência do que na morte em si, dos outros não...Dos outros eu lembro da morte... Eu choro pela morte...Não pela ausência.
São lembranças que não são minhas, que não deveriam ser, mas são...E que sempre voltam à tona...Seja quando eu passo em uma estrada que alguém morreu...Ou quando a data do falecimento está chegando... São pessoas que eu conhecia, ou que são conhecidas dos meus conhecidos ou dos meus amigos... Mas as lembranças são minhas, as lágrimas são minhas. E confesso que não que não queria pensar em nada disso.. Lembrar dessas coisas, eu nem estava lá, mas às vezes eu tenho a sensação de que eu estava. Eu consigo ver os olhos de algumas pessoas que morreram, no momento em que elas morreram. Parece loucura, eu sei, mas é verdade, e eu não queria isso.
Colocarei nomes nesta postagem, creio que ninguém vai ler, e se ler, provavelmente não saberá de quem eu estou falando... Então comecemos da primeira morte que eu me lembro.
Quando eu tinha, se não me engano 9 anos, minha avó, mãe do meu pai, faleceu. Lembro-me que ela já estava doente, e pediu que o meu pai fosse visitá-la. Ele chegou em um dia, no outro ela faleceu, em seus braços. Quando ele ligou para avisar da morte dela, eu atendi o telefone, e ele pediu para falar com a minha mãe. Então eu chamei-a, e nesse momento eu vi minha avó passando no corredor da minha casa, ela estava feliz! Com um vestido meio cinza, todo florido. Ela passou pra se despedir e se foi. Eu não chorei!
Nos meus doze anos, próximo à Páscoa e ao aniversário de uma amiga, uma amiga minha e da aniversariante, faleceu em um acidente de carro na BR 381. Ela estava dormindo e com o seu discman ligado. Só estavam no carro ela e os pais. Lembro-me como se fosse hoje, chovia, a estrada estava molhada. O pai dela perdeu o controle do carro, o carro rodou na pista e bateu. Ela não acordou. Um ferro entro na cabeça dela, entre olhos. Segundo os médicos, o cérebro dela estava descansando, então não poderia levar nenhum estímulo para o corpo. Ela entrou em coma e faleceu. Nem a mãe ou o pai puderam ir ao velório ou ao enterro. Mas ela foi ver a sua mãe antes de partir, eu sei. Eu vi! Ela foi até o quarto e disse adeus pra sua mãe. Não sei se ela foi ver o pai, pode ser que ela o tenha culpado, e que por isso não quis ir vê-lo. No seu velório, ela estava com a cabeça enfaixada, e estava inchando, o enterro teve que ser adiantado. Não pude conter as lágrimas que desciam insistentemente sobre a minha face. Era minha amiga, Naná!! E ela tinha o sonho de usar um vestido cor de rosa em seu aniversário de 15 anos. Isso nunca aconteceu!
Nos anos seguintes da minha vida, tive perdas, mas nenhuma pra me fazer lembrar, ou pensar, ou chorar.
Mas em 2007 meu afilhado faleceu por erro médico! Ele tinha apenas 11 meses! Faleceu no dia 8 de agosto, seria batizado no dia 12 e completaria 1 ano no dia 21. Ele eu não vi, mas senti! Depois de saber de tudo, eu consegui montar tudo o que aconteceu, desde o momento em que eu vi o pai dele descendo a pé do hospital e eu indo de ônibus ao centro da cidade. Ele faleceu após ter ficado 3 dias em coma, e depois da sua mãe ter escutado uma voz lhe dizendo para deixar que ele partisse, que se ela não deixasse, que ele ficaria ali, daquele jeito. ela foi ao quarto em que ele estava internado, deu-lhe um beijo na testa, e disse: "Ô meu filho, se você tiver que ir,vai! A mamãe vai sentir muita saudade, mas pode ir". Nesse momento a máquina que controla os batimentos cardíacos começou a apitar, médicos e enfermeiras entraram no quarto e pediram que ela saísse. E assim ele se foi, mas ele nunca pertenceu a esse mundo! Ele foi um anjinho que Deus enviou para que a mãe dele aprendesse a amar! Eu chorei muito, mas esse meu pensamento me acalmou. Meses depois eu tatuei o nome dele nas minhas costelas: Yan!
No dia 2 de outubro de 2009 perdi um primo, meu melhor primo! Desse eu não consigo conter as lágrimas quando eu me lembro! A ele eu já dediquei 2 ou 3 textos do meu blog. Ele era policial, da Rotam, em BH. Estava afastado por ter machucado o tornozelo em uma "pelada" com os amigos. Quando voltava da casa da sua namorada, indo em direção a casa da sua irmã, ele fora sequestrado. Como não estava fardado os sequestradores não podiam imaginar que ele estava de posse de uma arma. Ele, jogado no banco de trás, sacou o revólver, matou um dos sequestradores, atirou no ombro do que conduzia o veículo, que veio a parar. Só que a vida lhe pregou uma peça, eis que um outro veículo seguia o seu carro, ao perceberem o que tinha acontecido, os caras que estavam neste veículo atiraram contra o carro do meu primo, e uma das balas perfurou o seu pulmão. Ele desceu do carro, correu cerca de 70 metros, com a arma em punho. Não aguentou, caiu e faleceu. Segundo os médicos, se ele não tivesse corrido, provavelmente ele teria sobrevivido, porque ele morreu asfixiado com o próprio sangue, que entrou em seus pulmões. Se ele tivesse ficado dentro do carro esperando o socorro... Porque sempre tem que haver um SE? Eu chorei! Mas não quis, em um primeiro momento, ir vê-lo. Eu tinha uma festa pra ir. E tudo o que eu queria era esquecer. Mas não deu. Eu fui e vi ele dentro do caixão. Vi o caixão sendo colocado no buraco. Vi policiais chorando, vi tiros de honra. Vi minha prima desesperada e xingando porque tinha ido ver meu primo morto. Vi minha irmã desesperada, não deixando que fechassem o caixão, porque meu primo queria o carrinho dele. Vi um outra prima entrando em choque. Vi minha mãe, pela primeira vez, questionando Deus por ter levado meu primo. Ele se foi, mas todos os envolvidos no sequestro e morte dele, se foram também, um a um. Eu o vejo deitado no chão, tossindo sangue. Mas ao mesmo tempo lembro-me da última vez que o vi na casa dele, e ele havia me dado uma foto dele fardado, com dedicatória atrás. A música Não sei porque você se foi cabe direitinho. E eu choro sempre que ouço.
A última pessoa que eu vi, morta, foi a Isabella, uma jovem da minha cidade. Ex namorada de um conhecido meu. Ela sofreu um acidente de carro quando ia para a faculdade. Dizem que ela só andava correndo. Nesse dia, ela havia ligado para o namorado (atual) e disse que o encontraria na faculdade em 10 minutos. Não seu calcular muito bem esse lance de quilometragem e tempo gasto, mas da nossa cidade até a faculdade, deve ter aproximadamente 20 km. Ela seguia para a faculdade, quando se viu atrás de um comboio de ônibus, entre 3 e 4. Na tentativa de, com alguma sorte, ultrapassá-los na contramão ela se arriscou, mesmo sem ter visão. Eis que surge um carro, na velocidade em que ela estava, parar era impossível, entrar entre os ônibus também. Foi uma batida de frente. E ela morreu na hora! Ela estava de cinto, e o cinto a matou, quebrou o seu pescoço. Eu consigo vê-la dentro do carro. De olhos abertos. A batida foi tão violenta que nem os olhos deu tempo dela fechar. Eu a vejo, com seus cabelos lisos, castanhos com algumas mechas e seus olhos...Olhos castanhos...Marcados na minha memória, pra sempre!!! Não fui ao velório, não fui ao enterro...Se tiver trocado 10 palavras com ela, durante a sua curta estada na terra, foi muito. Mas mesmo assim eu me lembro, mesmo assim eu vejo...
Não são minhas lembranças...Não deveriam ser minhas... Mas as lágrimas são... As lágrimas foram... A morte não passa. O que passa é a vida..Por isso temos que aproveitar o máximo que podemos... Por mais difícil que seja, por pior que seja a lembrança...Ou a dor... Temos que tentar olhar pra frente e caminhar... 

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